quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

UNI-VERSOS

Dos poemas  faço asas para viajar
                pelos céus da liberdade,                                         
                                        sem limites.

O infinito está aqui, 
bem ao alcance desse verso.
                                      Uni-verso.

Poetas, vamos dar as mãos
                                     e unir os nossos versos.

Esqueçamos as mágoas e os ressentimentos.

Vamos rimar amor e perdão.

                                    E um novo mundo inventar...

A MAGIA DOS QUINTAIS

As goiabeiras ali. Uma ao lado da outra. Uma, goiabas vermelhas. A outra, brancas. Goiabas deliciosas, não importava a cor. Mais saborosas ainda, porque colhidas no pé. Às vezes, um bicho. Mas, como os mineiros dizem: “bicho de goiaba, goiaba é...”. Pois é. E era muito bom também subir no pé e ficar encarapitado lá em cima, num leve balanço ao vento.

E os mamoeiros? Ah, orgulhosos, exibiam seus frutos maduros, como seios inchados, pendurados no tronco. Mamões docinhos, que às vezes, quando esquecidos, acabavam sendo bicados pelos passarinhos. Nada se perdia.  Até os talos das folhas do mamão eram utilizados como canudinhos para soprar bolhas de sabão. Ou para fazer flauta doce, rústica, improvisada. 

Os mamões são realmente um caso à parte. Porque, mesmo verdes eram deliciosos. Não que a gente os comesse assim: viravam doces de mamão, habilmente preparados por minha mãe. Ela os fazia de várias maneiras: ralados com coco, lavrados e até mesmo em cubinhos, cristalizados. Eu me lembro que ela usava cal virgem para “curá-los”, para que eles ficassem bem durinhos: uma crosta crocante por fora e bem molhados por dentro. Deliciosos.

E os pés de manga? Tinha um pé de manga-coco e tinha também manga-espada, minha preferida. Em alguns quintais da vizinhança tinha manga-rosa, também muito saborosa.  Bonita e perfumosa. Mas, continuo dizendo: a manga-espada era imbatível. Tinha um sabor incrível. Aliás, ainda tem. E, para completar, a volúpia de subir nas grimpas, no mais alto da mangueira, e ficar lá de cima espiando o movimento do quintal lá embaixo. Uma sensação de liberdade e de poder.

Pelo que vocês já devem ter percebido, estou falando de algumas das frutas que tinha no quintal lá de casa, em Minas, da minha casa que ficava na rua 7 de Setembro.  Um quintal enorme, com bastante frente, pois o nosso barracão ficava nos fundos. Tinha pé de abacate, pé de figo, pé de limão galego, touceira de cana caiana, parreira de uva... As uvas eram daquelas pequenas, pretinhas, bem doces... Tinha um pé de romã, que é um outro caso à parte: lembro-me das romãs trincando, avermelhadas... Sempre me pareceu que a romã madura tem o gosto, a cor e a textura de manhãs se abrindo ao sol. 

E, para completar, tinha a horta. E também um galinheiro e um chiqueiro onde meu pai cevava os porcos (esse é um capítulo à parte, a ser comentado noutra ocasião)...  

Na horta a gente tinha caramanchão de chuchu, tomateiro, pés de jiló, pés de quiabo, pés de pimenta malagueta, bem vermelhinhas. Meu pai gostava de curti-las. Comia de colherada. E havia também folhas: couve, alface e taioba. E cheiro verde: cebolinha e salsa (em Minas não se usa muito o coentro, como aqui no nordeste).  Aqui e ali se plantava também a cenoura e algumas ervas (não, não tinha a canabis:  estou falando de boldo, hortelã, funcho, entre outros...)  E, às vezes, nasciam e quase dominavam tudo as aboboreiras. Doce de abóbora com coco: outra especialidade de minha mãe.   

Não dá para se falar de todos os sabores. Mas, impossível não se comentar a couve, cortada bem fininha e refogada no alho e saboreada junto com o torresmo, aquele bem pururuca, sequinho, estalando. Não poderia deixar de falar também do gosto e da textura da taioba, pouco conhecida por essas bandas do nordeste. É uma folha bem suculenta, nutritiva e saborosa.  E o jiló? Tem gente que acha que o jiló só serve como comida de passarinho. Realmente os pássaros gostam das suas pequenas sementes. Mas as pessoas, geralmente,  o acham amargo. Quanto a mim, sempre gostei de comê-lo refogado. Com arroz e feijão. Além do jiló, tinha ainda o quiabo, que é um pouco adocicado. O quiabo é mesmo um caso à parte: compunha o delicioso “frango com quiabo” que minha mãe fazia aos domingos. Frango com quiabo, angu, arroz branco refogado e feijão temperado no alho. E minha mãe tinha toda uma técnica especial para tirar a baba do quiabo: ele ficava tenro e gostoso, sem aquela gosma que muita gente detesta.   

Para mim, todos os quintais são mágicos. O da minha infância, então, nem se fala. Porque além de frutas e folhas, galinhas e porcos, tinha também flores. Um verdadeiro ecossistema (naquela época não se falava assim, nesse “ecologês”...). E então vinham os pássaros e as borboletas e outros insetos. Quase uma floresta, o quintal, uma festa. Em profusão, os beija-flores. Borboletas de todas as cores. Eu amava aquelas que eu chamava de “flamengo”, pelo seu vermelho e preto. E tinha também as borboletas amarelas. Enfim, um quintal de muitas cores, muitos sons, muitos sabores.  

Não posso me queixar da minha infância: muito trabalho, muito estudo. Mas também a grande alegria de ter um quintal vivo, com o qual eu mantinha uma relação de cumplicidade. O quintal, um dos meus melhores amigos, o meu refúgio secreto. Eu, que sempre fui franzino, ali me sentia um gigante, o dono do mundo. Da goiabeira ou do alto da mangueira, com uma caneca de ágata cheia de água espumante, soprava no canudo de mamão as coloridas bolhas de sabão. E elas iam subindo, subindo e depois explodiam e se desfaziam no ar. Como essas recordações que aqui também passeiam, coloridas, pelos quintais da vida. Quintais: portais que nos permitem viajar no tempo. E nesse país das lembranças há sempre um gostinho especial: um sabor de quero-mais. 

(dedicado a todos aqueles que tiveram um quintal... ou que quiseram, mas não puderam tê-lo... porque um quintal é sempre um pedaço do paraíso...) 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DOIS MICROCONTOS

1. DESENCONTRO 

No painel do aeroporto: LANDED. Finalmente. Alguns minutos depois, a esteira começou a girar. Será que ela...? Vários rostos, muitas malas. Depois, o silêncio. E a volta solitária para casa.


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2. AO FIM DA TARDE 

O carro deslizava macio. De repente, na FM, aquela música... Parou no acostamento. Depois de um tempo, enxugou os olhos e desligou o som. Voltou lentamente à estrada, sem mais vontade de chegar a lugar algum. Uma lágrima teimava em voltar. Mas ele, não. Precisava mesmo partir. Quem sabe, esquecer...  

HOJE É DOMINGO (estilo parlenda)

Hoje é domingo,
Sem essa de cachimbo
Vou contar até cinco
E mostrar como eu brinco.

De olhos fechados
Ouvidos tapados
Nariz bem trancado
Vou sair por aí:
Vou andar pela terra
Vou subir pelos montes
Vou descer pela serra
Mergulhar na floresta,
Nadar pelos rios
E correr pelos vales
Procurar por um ninho
Botar alguns ovos
E dar leite aos meninos.
Se o perigo aparece
Eu viro serpente
E de repente
o veneno destilo.
Com classe e estilo
Pela vida desfilo.
Ninguém sabe o que sou
Ninguém sabe onde vou.

Porque hoje é domingo.
Nem vem de cachimbo.
Vou contar até cinco,
E mostrar como eu brinco:
Boto um trinco na mala
Aperto o meu sinto
E viajo pra Austrália.
Levo um brinco pra Natália
E um outro pra Eulália.
Conto até cinco
Tão belo me sinto
É verdade, não minto
Me divirto com afinco
É gostoso brincar
De ser ORNITORRINCO.

QUEM NUNCA TEVE UMA RUA?

"Ah que saudades que eu tenho da aurora da minha vida,
da minha infância querida, que os tempos não trazem mais…”
(Casimiro de Abreu)
“…Rua da União…
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade…”
(Evocação do Recife, Manuel Bandeira)
Eu tive a minha. Rua 7 de Setembro, em Governador Valadares, Minas Gerais. Eu me lembro, como se fosse hoje, do dia em que nos mudamos para lá, vindos de uma cidade menor, São Geraldo do Tumiritinga. O que essas cidades tinham em comum? O enorme rio Doce, com seus remansos e corredeiras, com os frondosos pés de ingá debruçando suas bagas veludosas sobre as águas amarelas.  O rio serpenteava no sopé da montanha Ibituruna, abrindo-se em dois leitos, formando no meio a Ilha dos Araújos. Hoje, a Ibituruna é trampolim para os voos de asa delta, inclusive para campeonatos internacionais. Minha rua ficava um pouco longe do rio. Mas isso não era problema. A gente, rapidinho, ia pra lá de bicicleta.
Pois bem. Chegamos à Governador Valadares, que um dia se chamou “Figueira do Rio Doce”, nome muito mais bonito e poético que governador qualquer coisa.  A família toda:  meu pai, minha mãe, eu e meus seis irmãos. Não éramos seis, éramos sete. Como a nossa rua que também era sete, 7 de Setembro. E alugamos um barracão de fundo de quintal, exatamente no número 3.539. A luz elétrica – que tinha nos postes de rua – levou algum tempo para ser instalada em nossa casa. Assim, no começo, estudávamos à luz de lampiões e lamparinas à querosene.
Rua poeirenta no estio e lamacenta nas épocas de chuva. Mas nós, crianças, sabíamos tirar proveito de todas as estações. No verão era bom para se jogar bola,  brincar de caubói, empinar papagaio (também chamado de pipa e raia),  jogar bolinha de gude (ou bolinha de vidro, biloca) e até mesmo io-iô e bilboquê. E no inverno? Ah, com a chuva vinham a lama,  as enxurradas, os barquinhos de papel, os jogos de finquinho. Lembro-me que era muito bom sentir o cheiro da terra molhada e sair correndo atrás das tanajuras: “ – Cai, cai, tanajura, na panela de gordura…” E como era terrível o som das trovoadas acompanhadas dos flashes dos relâmpagos. Os coriscos nos levavam a cobrir espelhos, a guardar tesouras e a ficar bem escondidos sob as cobertas, tremendo de medo de que algum raio caísse sobre nossas cabeças.
Pela 7 de Setembro trafegavam poucos carros, muitas bicicletas, uma enorme quantidade de carroças de burro e charretes. As bicicletas eram o transporte mais comum. As carroças de burro geralmente passavam cheias de sacos de milho, feijão e arroz, indo e vindo, sempre na direção da estação de trem que ficava perto lá de casa. As charretes transportavam, principalmente, as “mulheres da vida fácil”, pois bem pertinho da 7 de Setembro ficava a “Figueirinha”, a zona boêmia, chamada pelos locutores da ZYV-21, emissora de rádio local,  de “a parte mais alegre da cidade”.
Era uma rua de muitos meninos e muitas meninas, de muitas brincadeiras tarde afora, depois das aulas. Brincadeiras que entravam noite adentro, sob os postes, à luz do luar. A  noite nos transformava em heróis de nós mesmos: caubóis, fantasmas, contadores de histórias, meninos que brincavam de pique-pega, estátua, garrafão, gato no pote, cabra-cega, esconde-esconde, boca-de-forno. E de meninas que pulavam corda, que brincavam de roda-ciranda, de amarelinha, de passa-anel e tantas outras brincadeiras que nos faziam parecer “donos do mundo”, esquecidos do próprio tempo.
Na rua 7 de Setembro, aliás em toda a Governador Valadares, àquela época, não tinha ainda televisão. O rádio, junto com o cinema, o circo e os parques sazonais eram as principais diversões da cidade. Eu me lembro, criança, ouvindo novela de rádio: O Direito de Nascer foi um grande sucesso. Ouvia também Carlos Gonzaga cantando “não te esqueças, meu amor, que quem mais te amou fui eu…” E Celi Campelo enfeitando o seu sapatinho com um laço cor de rosa. Elvis Presley dizendo “It’s now or never, tomorrow will be too late…” Nilo Amaro e seus Cantores do Ébano cantando “no Abaeté tem uma lagoa escura, arrodeada de areia branca”. Mas o que me fazia a cabeça mesmo eram as aventuras de “Jerônimo, o Herói do Sertão”, pelas ondas da rádio Mayring Veiga, um original de Moisés Weltman: “Filho de Maria, homem nasceu… Serro Bravo foi seu berço natal… Com o Moleque Saci para ajudar… O Jerônimo faz qualquer homem tremer…” Jerônimo tinha até uma noiva, chamada Aninha. E era um tiroteio danado contra os malfeitores, socos, sopapos, relinchos e ruído de cascos de cavalo. Mas havia também romances, beijos estalados, declarações de amor,  uma mistura de aventura,  emoção e magia que a linguagem do rádio traz, estimulando a imaginação e favorecendo a criação de cenários dentro da nossa cabeça.
À noite, dentre outras canções, costumávamos cantar, lá na rua 7 de Setembro,  a melodia da trova que fazia uma comparação entre a primavera e a mocidade, do poeta fluminense Casimiro de Abreu: “Iguais parecem quando a vida as solta/mas no entanto elas não são iguais/a primavera passa e depois volta/e a mocidade não nos volta mais..”
Quem nunca teve uma rua? A verdade é que sempre existirá alguma rua em nossas vidas, seja no passado ou mesmo agora. E cada uma delas terá um sabor diferente. Cada uma delas terá as suas próprias histórias.  Como a minha rua 7 de Setembro, cheia de canções e de acontecidos. Como a sua também deve ter. Histórias e canções talvez bem semelhantes a essas. Pois todas as ruas guardam suas histórias, como velhas relíquias entesouradas nos baús da lembrança. O tempo passa, mas essas lembranças ficam. E ganham um contorno de suavidade, uma leveza de bolha de sabão flutuando, perdida no tempo. Um tempo que a modernidade engoliu. Um tempo que não volta mais.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

POR TRÁS DOS MUROS - humor


Por trás do muro da China
olho apertado de menina...

Por trás do muro de Berlim
uma loura sorrindo pra mim...

Por trás do muro de Paris
doces perfumes no nariz...

Por trás do muro de Moscou
balé Bolshoi dá um show...

Por trás dos muros de Havana
teria também sandália havaiana?

Por trás dos muros de Lisboa
bacalhau à Fernando Pessoa...

Por trás dos muros de Nova Iorque
uma estátua de Máximo Gorki...

Por trás dos muros de Angola
diamantes pedindo esmola...

Por trás dos muros do Vaticano
promessas de torcedor corintiano... 

Por trás dos muros do Rio
samba, mulata e calafrio... 

Por trás do muro das Gerais
pão de queijo e muito mais...

Por trás dos muros de Natal
uma duna de sol, outra de sal...

Por trás dos muros de você
um mistério sei lá de quê...

Por trás dos muros da frente
um futuro bem passado em papel de presente...  

MINAS GERAIS

 Peço licença a você
Pra minha terra cantar
Você vai saber porquê
Com certeza vai gostar...

Suas belezas são tamanhas
Têm o brilho de cristais
Entre rios e montanhas
Assim é Minas Gerais.

Sua beleza me fascina
Feito pedra, a mais bonita:
Tem brilhante e turmalina
Tem berilo e hematita.

Lá na curva da estrada
Vem o trem resfolegando
É Maria enfumaçada
O minério transportando.

Terra de paz e alegria
Tem belezas naturais
Terra de muita poesia
Assim é Minas Gerais.

Cachoeiras e cascatas
Brisa suave a cantar
Mutum piando nas matas
Belas noites de luar.

Tem “relampo” e chuvarada,
Raio, corisco e trovão,
Terra fértil, abençoada,
Fartura tem de montão.

Tem a vaca, o leite, o queijo
Requeijão e rapadura
Beija-flor de doce beijo
Tem içá, a tanajura...

Tudo isso tem em Minas
Tudo isso e muito mais
Tem beleza de menina,
Assim é Minas Gerais...

Oh que terra inaudita!
Oh que terra mais formosa
Oh que terra mais bendita
Oh que terra esplendorosa!

“Oh Minas Gerais
Quem te conhece
Não te esquece jamais
Oh Minas Gerais..."


domingo, 9 de janeiro de 2011

DECLARAÇÃO DE AMOR (EM TROVAS)

Hoje vou me declarar
com palavras de paixão:
para sempre vou te amar,
dona do meu coração...

Tens um brilho de estrela
e o perfume do jasmim.
Para sempre quero tê-la
enfeitando meu jardim...

Hoje eu sonhei contigo,
acordei com um sorriso.
És meu porto, meu abrigo,
e também meu paraíso.

Eu não sei o que dizer
pra expressar tanta emoção.
Você é meu bem-querer,
minha eterna devoção.

Hoje estou de bem com a vida,
sou um homem bem feliz.
Você é minha querida, 
a mulher que eu sempre quis.


(para Tânia Maria)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

HOJE EU QUERO UM POEMA

Hoje eu quero um poema
que te faça bailar alegre
feito flor de primavera.

Um poema que tenha o perfume
de jasmim se espalhando
em brisas de ternura em seu caminho.

Hoje eu quero um poema
com a brancura do lírio
e com a leveza dos colibris.

Um poema singelo assim,
como o teu sorriso de princesa
se abrindo em pétalas para mim.

(para Tânia Maria)